Na caçada, a presa vira o jogo, revira o corpo e trança o pescoço, inverte a corrida, quando vê já tomou o ferro e o berro agora aponta pra ponta contrária.
E agora quem caça? Qual nuca é mirada? Quem sua agora soa o estalar do gatilho. Quem nunca é caça? Com atraso, chega a hora, sem bater na porta, escorrendo pelos pulsos e economizando ponteiro de quem calculava a morte a cada segundo. Questão de tempo.
Vem buscar, vem pro arrebento do seu peito estilhaçado na bala de sal. A ferida ainda queima, salpicada de pólvora, sem anestesia, sem amortecer, sem massagem. Deixa a sorte ser morte. Questão de veneno.
Respira fundo e busca lá no teu túmulo um suspiro de paz. Agoniza que agora é o momento. Hoje não é dia da caça, é dia de quem caça dor. Grita, chora, implora, pé na sua cara, agora a gente cobra. Pica seu calcanhar até o barril esvaziar. Saraivada de mágoa pro seu peito envenenado. Olha bem pra essas escamas aqui, grava na lápide da sua memória cada palavra sibilada. Quebrei sua casca, caiu seu véu. O revide é remédio pique antídoto pra quem só destilou fel.
Eu não tenho pena, não me deram asas. Já me viu voar? Sou rasteiro, não faço barulho, sinto seu cheiro de longe, armo a mente, armo os dentes, preparo o bote, quero seu calcanhar. Sou sorrateiro.
Vem me caçar, mas vem sem pressa de voltar. Primeiro senta, depois chora, primeiro sente, depois ora, depois espere pra provar se Deus sabe o que faz. Se ele existe e se consegue te escutar. Teotoxina, coaguloArrogante, cosmoAgonia. Com todo esse arsenal na ponta de minha língua, eu jamais me esconderia num pomar.
Aqui, a serpente não tenta. Ela consegue.
Aqui não tem gênesis e maçã. Aqui tem gênero lachesis.
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