A chuva vem. E não se questiona pra quem. Quando? Onde? Como? Pode? Chega e cai. Certa de si, dá a si. Despenca e vai.
Ela só molha - e olha você reclamar. A chuva, essa Shiva de fora que banha a pele e esfria a alma, só evapora quando o peito acelera a manda pras pernas o impulso pra corrida até onde estiver coberta - a área.
A chuva não se importa. Você que se chova!
Para de pluviar - e de torrente mole - e começa e pensar como se esquivar de quem tem todas as palavras pra te deixar sem um pingo de gota serena - daquele jeito que escorre. Sua raiva evapora. Oras, pouco me importa.
A chuva só vem e molha. Aceita que ensopa - menos.
Sim, nós já tentamos amarrar a cara, trancar a lábia, morder o beiço, pensar num jeito de não chorar. Mas para que todo esse trabalho? Chorar não é o máximo?
Na tela, na peça, no palco, longe do asfalto... Falta. Não ganha prêmio quem esgoela? Não mama quem chora? Vocês dizem assim, toda hora. E agora, justo agora, cala?
E quem chora sozinha na rua, na casa, no quarto, no banheiro, naquela viela? Ué, vi ela ali, sentada, sozinha, perdida nas próprias desgraças - e cadê o guarda para defendê-la da chuva? Ficou sem graça?
A real é que ninguém compartilha lágrima, guarda ou angústia- quem dirá chuva.
Quando se propõe a ser tempestuoso, não tem erro: é tirado de cabuloso, pique rainha da angústia, senhor do drama, choroso, egoísta, "mais do mesmo".
Poucos e poucas estão preparados pro voo das moscas que dura dois dias de esforço e menos de um na boa, saboreando o corpo- já morto.
Assim eu tranço essa conversa, mesclando a linguagem da rua com a erudição das peças. Tudo pra dizer que eu chorei, chovi, escorri e fiquei...
Fiquei bem debaixo do meu guarda-lutas. Protegendo cada vitória da derrota que tenta - mas não inunda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário