Do alto, encho os pulmões com a última rajada de ar. Estufo a caixa torácica e pressiono a borda da esteira com a ponta dos dedos. Entro numa vibração única, localiza entre o passado e o futuro. Finco-me no presente e conto os segundos para me desprender. Aos poucos, os pelos do corpo despertam e fazem na nuca um carinho suave. Se a pele esfria, o sangue ferve. Molho os lábios com o que resta de saliva e concentro-me em fechar os olhos sem perder a bela imagem das águas estampando as vistas. Escureceu em mim. Pulei.
A queda me levou ao pico das sensações. Eu, filho dos rios, mares e cachoeiras, escorpiano, nascido da água e batizado na água, voltei ao útero que por tanto tempo me regou. Eu, semente, broto, hoje flor de lótus, banho-me nos braços longos da deusa marinha... O bom filho à água retorna.
No âmago daquele universo aquático encontrei abrigo. Tudo o que vivi foi se tornando silêncio e somente a sinfonia dos corais coloriam meus sentimentos. Da concha cravada no meu centro, amanheceu o coração perolado e então soube, naquele instante, que a joia mais rara sempre esteve em mim, só precisava ser colocada no lugar certo.
Só precisava ser colocada no fundo da alma.
Só precisava ser colocada no fundo da alma.
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