Esparramou-se pelo breu como farelos no infinito. Preguiçosamente, abriu caminhos nunca antes caminhados - sem rumo, esquinas, curvas ou saídas. Em cantos, deixou acumular-se a poeira luminosa que até hoje brilha atrasada. Um tempo totalmente relativo que vai e volta, roda e dança no vórtex de si mesmo. Foi assim que nasci, parindo-me na escuridão. Com o encanto de quem se criou antes mesmo de se criar e crer na vida.
Arrastou-se no sopro que veio dos confins daquela goela seca, silenciosa, muda devido à anemia de palavras, de confissões, choros, gritos e relatos. Muda por ter acabado de se fazer semente no universo a ser arado. Desta cilindro vocálico nasceu o silêncio. Absoluto, em eterno luto, lutando para não ser notado e sim ouvido. No vácuo dos orifícios que, feito cavernas só ecoam, o silêncio achou refúgio. Anulou-se para então se fazer onipresente - agora, em todos e todas que ainda estão por vir. Por existir.
Do nada surgiu o nada que seria uma partícula daquilo que chamamos de "todo". Dessa enorme colcha de retalhos, os retratos do espaço nunca ficaram pregados nas paredes do infinito. Espelharam-se. Refletiram-se os encantos nos cantos uns dos outros e assim propagaram a si próprios, unicamente idênticos, fazendo dos muitos o nada reconhecível. Eu estava ali, mas não me vi.
Vi-nos nos outros.
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Reflexão:
E eu penso: não consigo medir o quanto de espaço há dentro de mim, da minha mente, do meu querer, da minha consciência.
Eu tento imaginar paredes, muros, algum tipo de estrutura que me diga "começa aqui e vai até ali", mas nada vejo. É um breu e eu - "brEU".
Percebo então que o universo se faz em mim sempre que me olho e me sinto pequeno diante do que sei que sou, mesmo sem saber até onde sou. Sinto como se existisse o tudo e o nada num mesmo momento no qual ambos anulam-se e criam-se de acordo com as vontades e desejos.
E essas vontades e desejos são como estrelas... Elas nascem de uma explosão, brilham intensamente e, em seguida, morrem. Ainda assim, muitas vezes continuamos a vê-las por anos, achando que ainda estão vivas. Muitos desejos são assim... A gente perde a essência, mas continua acreditando que ainda quer como sempre quis.
Nós, eu você, eles, todxs, percebemos tarde demais que o brilho se extinguiu há tempos... Que desejo nasce pra morrer, pra ser queimado e não pra permanecer intacto.
Vivemos, internamente, a cosmogonia de nós mesmos.
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