Calor da palma da mão sobrevoando a pele, sem tocar o solo coberto pelos pelos do couro. Negaram-me o endereço do meu corpo, mas eu o descobri vagando por outros corpos. Encontrei o caminho até mim e decidi não voltar.
O toque. Trêmulo e inseguro. Suavemente, espalhava por minhas pernas o desejo puro, hidratando cada poro sedento. Garoava no pico dos meus joelhos e o barulho do chuvisco era de enfeitiçar.
Foram anos e mais anos ouvindo péssimas histórias sobre meu corpo. Criaram fábulas covardes e monstruosas para afastar a vontade de me comer - pelo menos uma vez na vida - sem sentir culpa fajuta e passageira. Ela vai. O desejo finca.
Hoje eu me possuo. Invado minhas partes com a intensidade que quiser. Tem dias que sou só saudades e corro para o abraço solitários dos meus próprios braços. Em outros, apenas acaricio a barriga como se algo ali dentro existisse algo além de mim. Esqueço do gênero, esqueço do peso e apenas me deito. Eu me sinto. Deixo que floresçam o mangue de barba, raspo o teto das ideias, desenho sobre os ossos e me perco quando encontro a nascente da pubis, local onde minha consciência morre a cada mergulho. Eu não sei de nadar.
Assim vou, assim eu fui, assim eu me consumo. E sempre que (im)possível, sumo.
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