Se tivessem me dito que o amor doía, eu teria corrido. Corrido
para fora do portão, até a calçada de casa, e esperar você chegar sobre o
caminhão de feira, com cheiro de cansaço e fruta, de casca dura e polpa mole, lá
do alto, a me olhar te olhar. Sempre, no mesmo horário, eu fugiria do meu dia
para cair no nosso: um quadrado no calendário marcado com coração, verde demais
pros outros, descascado e maduro para mim.
Se tivessem me dito que o amor corria, eu teria doído, pois o tempo passaria rápido demais e mesmo todos os anos segurando a vontade de te provar não teriam me dado a chance de ao seu lado caminhar. Caminhar e caminhar, sem parar, pelas ruas. Conversar sobre o universo com tamanho daquelas algumas horas em que estivemos separados, sentindo a presença um do outro há anos luz. Nossa rotina secreta - que transcendia as esquinas dos quarteirões - deixava pegadas incansáveis que eu fazia questão de transformar em rastro. Assim, sabia como voltar e te trazer de volta comigo.
Se tivessem me dito que o amor nunca morreria, eu teria amado. Mas dei outro nome, chamei de amizade, de amigo, de querido, irmão, de meu aliado. Tudo para não admitir que nascia dentro de mim um pedaço do sempre. Tive medo, pavor, receio, quando engoli o choro, mas não o amor, quando chorei de escorrer, mas sem escorrer o amor, quando gritei de angústia no travesseiro, mas não gritei que queria te amar, quando vi outros lábios nos seus, mas os meus, com amor, aos teus não consegui selar. Era pra sempre, aquele amor era pra sempre, mesmo doendo, correndo, morrendo, era pra sempre.
Se tivessem me dito que o amor intimidaria, eu teria encolhido – e não escondido - o meu pra te mostrar, aos poucos, que a grandeza dele não estava no tamanho, mas sim no peso. Que era pra ser pesado, mesmo, pra fazer seu corpo se curvar, sentir o meu e não ver mais graça na leveza dos dias longe de mim. Separados, leves, juntos, pesados, na terra branca, fincando as silhuetas nos lençóis, regando os lotes de cama com o suor, mistura de amor com pavor. Era pra temer apenas a pequenez dos outros amores que, pelas beiradas, tentavam acessar seu peito para nele encontrarem algum conforto. O meu, você podia encarar.
Se tivessem me dito que o amor crescia, eu teria cabido. Com joelhos esticando; braços desengonçados caindo em torno dos seus ombros; olhos abrindo as cortinas de cada amanhecer; com a voz oscilando entre o grave da discussão, o agudo da aflição e o sussurro da rendição; com todas as dimensões se expandindo, eu caberia. Teria tamanho o suficiente para alcançar o topo das suas ideias e me alojar lá, no pico, usando o seu amor para me esquentar. Mas eu não cresci com ele. Fiquei pequeno demais pra que você se sentisse gigante. Lá do alto do seu caminhão de feira, você me olhou, minúsculo, e não percebeu que...
Se tivessem te dito que o amor é detalhe, você teria me amado.
Se tivessem me dito que o amor corria, eu teria doído, pois o tempo passaria rápido demais e mesmo todos os anos segurando a vontade de te provar não teriam me dado a chance de ao seu lado caminhar. Caminhar e caminhar, sem parar, pelas ruas. Conversar sobre o universo com tamanho daquelas algumas horas em que estivemos separados, sentindo a presença um do outro há anos luz. Nossa rotina secreta - que transcendia as esquinas dos quarteirões - deixava pegadas incansáveis que eu fazia questão de transformar em rastro. Assim, sabia como voltar e te trazer de volta comigo.
Se tivessem me dito que o amor nunca morreria, eu teria amado. Mas dei outro nome, chamei de amizade, de amigo, de querido, irmão, de meu aliado. Tudo para não admitir que nascia dentro de mim um pedaço do sempre. Tive medo, pavor, receio, quando engoli o choro, mas não o amor, quando chorei de escorrer, mas sem escorrer o amor, quando gritei de angústia no travesseiro, mas não gritei que queria te amar, quando vi outros lábios nos seus, mas os meus, com amor, aos teus não consegui selar. Era pra sempre, aquele amor era pra sempre, mesmo doendo, correndo, morrendo, era pra sempre.
Se tivessem me dito que o amor intimidaria, eu teria encolhido – e não escondido - o meu pra te mostrar, aos poucos, que a grandeza dele não estava no tamanho, mas sim no peso. Que era pra ser pesado, mesmo, pra fazer seu corpo se curvar, sentir o meu e não ver mais graça na leveza dos dias longe de mim. Separados, leves, juntos, pesados, na terra branca, fincando as silhuetas nos lençóis, regando os lotes de cama com o suor, mistura de amor com pavor. Era pra temer apenas a pequenez dos outros amores que, pelas beiradas, tentavam acessar seu peito para nele encontrarem algum conforto. O meu, você podia encarar.
Se tivessem me dito que o amor crescia, eu teria cabido. Com joelhos esticando; braços desengonçados caindo em torno dos seus ombros; olhos abrindo as cortinas de cada amanhecer; com a voz oscilando entre o grave da discussão, o agudo da aflição e o sussurro da rendição; com todas as dimensões se expandindo, eu caberia. Teria tamanho o suficiente para alcançar o topo das suas ideias e me alojar lá, no pico, usando o seu amor para me esquentar. Mas eu não cresci com ele. Fiquei pequeno demais pra que você se sentisse gigante. Lá do alto do seu caminhão de feira, você me olhou, minúsculo, e não percebeu que...
Se tivessem te dito que o amor é detalhe, você teria me amado.