Música alta. Abri mãos dos ouvidos e te segurei com os
olhos. Deslizei suavemente entre as vibrações do seu respirar e as batidas de
ambos os corações. Soei como uma melodia envolvente e te achei. Ali, tentando
acompanhar meus passos perdidos. Todo lugar esconde um ponto interessante a ser
observado. Todo lugar esconde um você e dois de mim. Um que sabe o que quer e
outros dois que camuflam a vontade. Todos ficam. Todos dançam.
Embriaguez. Timidez. Maciez. Ritmo. Respiração. E os corpos
entregues aos copos vazios. Cheios, transpirando sangue de alma – suor - e
calor. O calor. Um hálito de vulcão que estoura junto com a pulsação da
batida sonora. Música, amor em seu estado gasoso. Música e só. Todos cantam
juntos. Só e juntos.
O que meu olhar te disse:
“Pode me conduzir. Pode pegar a minha mão e fazer dela
ponteiro de bússola. Pode mudar a rota do meu navegar e parar em qualquer porto
liberto de mapa. Eu deixo, eu quero, eu me afogo se você prometer me encher de
água até que o magma se torne rocha, até que o quente suspire frio, até que meu
peito engula o pico vulcânico e se faça oceano. Pode me consumir. Antes que eu suma.”
O que o seu olhar me respondeu:
“Olhe pra mim. Isso. Continue, assim, sedento. Agora molhe os lábios, sopre o lado interno de sua bela camisa, mire o teto,
suba, e caia aqui, no meu sorriso rasgado de lado. Vou chegando aos poucos no
canto da sua vontade, pedindo licença ao desconhecido só pra ser recebido
assim, de cara. Agora me encara. E chama. Que eu vou aí soprar.”
Tempo o bastante para compor um refrão. Eu repito você. E
você me decora.