Mais uma manhã quente. Desisti de
esperar pela brisa fresca. Estávamos no auge do verão e só restava calor, sol,
céu azul e um cheiro forte de frutas. Perfume de pêssegos, mangas e mamões. A
terra paria como nunca antes e, banhado de cores, o solo se fazia dia após dia.
Minha mãe acordou-me bem cedo com
o cheiro de café. Após esfregar os olhos e esticar os ossos, parti para a
cozinha. A mesa - coberta por um pano azul e branco – estava vestida de
carruagens, casas e damas com vestidos de porcelana. O queijo era tão macio que
se aconchegou na boca. O gosto da matina temperou minha língua. Hora de sair para
o mundo.
Branco. Era assim que o campo se
encontrava. Completamente branco. O verão apresentava sua “neve” macia e pura.
A vastidão se cobria de algodão e o céu morria de inveja. Suas nuvens não eram
tão densas muito menos tocáveis. Já o chão era o "céu" do homem,
passível de carícias vindas dos meus pés. Um céu possível, alcançável, de verdade.
Corri. Senti a suavidade na ponta
dos dedos. Como era bom existir em tais condições.
Jogado entre o paraíso
almofadado, deixei que as costas escorassem-se nos ombros da tranquilidade.
Chorei. Sem motivo mesmo. Choro sem tristeza que não atende pelo nome de
lamento. Choro que anuncia vida dentro do coração. Que revela chuva em dias de verão.
Reguei aquelas nuvens com gotas salgadas. Fiz-me parte do todo ao ser o dono
das lágrimas.
De longe, a mãe observava tudo. O
sorriso lhe maquiava a carranca talhada na preocupação. O par de jades, que do
alto do rosto cintilava verde e esperançoso - submerso na pele cor de café -,
fazia-me vigília.
Matriarca, mãe, meu deus. O
verdadeiro deus diante daquele paraíso algodoado. Veja mãe, seu filho pesa
menos do que a culpa do homem; menos do que as palavras do livro sagrado. Ele
flutua no solo.
Veja mãe, o céu não é e nem nunca
foi o limite. Está aqui, debaixo dos meus pés, na palma das minhas mãos. Nas
flores de algodão.
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