quarta-feira, 16 de novembro de 2011
Sunday
Cada gota matava a sede. A chuva não atrapalhava os olhos, nem impedia o som. A chuva estava hipnotizante.
Olha para o alto e a lama nos pés não diz mais nada. Sente o cheiro da terra e relaxa os ombros. Cada acorde, cada riff distorcido, cada segundo numa atmosfera sônica que matava os neurônios e libertava a mente das garras da racionalidade. Você não consegue olhar para si mesmo. A natureza pensou em tudo. Essa foi a maneira que ela encontrou de te manter vivo por mais tempo. Você não consegue se ver.
Domingo.
Caminhava com passos cuidadosos. O chão não era confiável. Respirava profundamente. Os pulmões ainda não estavam recuperados. A cidade deixa marcas. Cheguei ao local. Muitas gente, muita água, pouco espaço... Cheguei e já parti.
Como descrever uma sensação tão única? Como? Bem, não existe uma fórmula, mas existem palavras.... Muitas palavras.
"Primeiro, você deixa de sentir o corpo. É como se os membros esfarelassem como areia. Em seguida, o peso nas costas desaparece. A visão, cansada de sempre capturar o mesmo, decide dormir e tudo fica escuro. Então, você passa a "ver" com os ouvidos. Cada nota, cada vibração de corda, cada gota de chuva ecoava dentro do vazio que, agora, completava a existência. O "nada" dentro de mim parecia ter se misturado com o ambiente. Não havia mais direção a ser seguida e o coração batia devagar. Nem frio e nem calor. Apenas o vazio preenchendo o ser.
Não há mais nome, endereço, família, dor, paixão, vontades e frustrações. Não há nada. E por isso, existe algo no fundo das camadas soterradas de frequências inaudíveis. Existe a fuga".
O tempo escorreu até as pontas dos dedos molhados. Gota por gota, contou cada segundo gasto com a ausência da mente. Não me cobrou depois. Mas ainda assim, fez questão de registrar.
Conforme fui retornando, lembrei-me das pessoas que gostaria de ter comigo naquele momento. Dividir o vazio, repartir a inexistência e poder falar sobre aquilo que ninguém jamais vai entender.
A mente é como um cavalo selvagem. Enquanto puder cavalgar, será bela e imprevisível. Mas no instante em que ganhar cabresto, o que antes encantava, passará a tirar da beleza o dom de fazer sorrir sem estar realmente feliz.
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