sábado, 23 de julho de 2011

Secaram

Mundo, pare por um instante e me ouça. Ou melhor, não quero que me ouça, quero que se esforce para me compreender de uma vez por todas.

Era uma vez...

Nasci. Em silêncio. Minha mãe esperava um choro. Compreensível. Ela queria um parto "normal". A medicina dizia que sim, eu não dizia nada. Esse era o problema. Já nasci em silêncio e meu coração desistia de lutar antes mesmo de ser banhado pela luz de um novo mundo. Nasci cansado de viver.

Enquanto crescia, mais silêncio. "Meus pais são meus melhores amigos". Não, eles eram apenas meus pais. E que esse título seja suficiente. Não toleraria cobranças. Havia amor, não nego e nem tenho motivos para negar. Mas era um amor invisível que se fazia nos detalhes. Não mudei muito, devo admitir.

(In)Felizes para sempre. Fim.

Pense num grande empresário que conseguiu criar seu legado com esforço e recebeu dúzias e mais dúzias de palmas calorosas... Agora pense nesse mesmo individuo vendo que suas crias têm vontade própria. O que ele (você) faria? De repente, pegaria uma caneta e então listaria todas as coisas que seus filhos deveriam deixar de fazer e, principalmente, daria ênfase para as punições caso algum anarquista tentassse se destacar. Pois bem, ou você apelaria para a Constituição ou para a Bíblia Sagrada. Dois elmentos que mudam de nome em outros países e culturas, mas nunca de essência e propósito.

De repente, esse filho(a) decide questionar o poder absoluto. E aí, os dias dourados desaparecem e as asas que antes anunciavam o amanhcecer, hoje batem durante a noite, como se a escuridão e o fim do dia fossem algo amaldiçoado. De repente, o sorriso bonito e o olhar sagaz se tornassem o maior dos pecados. O poder não deve ser questionado. E esse único inconformado trilhou sua própria ruína. Queria, a qualquer custo, aquilo que mais detestava: o poder absoluto. Buscou sua própria morte. Buscou seu fim. E quem deve julgá-lo?

Quando você sente aquela dor na boca do estômago que gela a alma e te faz franzir a testa, passa a entender que nem todos querem viver assim para sempre. Acorda e diz que não quer dar a volta por cima, que prefere parar e chorar. Admite que está ferido(a) e nada mais faz tanto sentido. Busca uma forma de evitar que os outros possam perceber seus braços machucados, não por vergonha, mas porque quer apenas evitar longos discursos de pessoas que são tão covardes ao ponto de dizer que " é errado se sentir assim".

Quantas vezes eu mesmo não acordei com vontade de jogar ao vento tudo o que conquistei? E quantas vezes me disseram que eu era errado e que isso ia passar? Tentavam tirar de mim o direito de errar, não por que se preocupavam de fato, mas porque temiam o momento em que minhas lágrimas escorressem na mesa de jantar ou naquela festa em que tudo deveria dar certo. Evitavam-me, enquanto demonstravam acolhimento. Mas nunca se perguntaram se eu realmente queria contar algo. Eu nunca fiz questão e quanto fiz, escrevi ao invés de telefonar.

Ótimo que muitas pessoas consigam superar suas frustrações amorosas. Parabéns para aqueles que têm o dom de não transparecer as fraquezas. Para o resto do mundo, vocês são exemplares. Quase como totens adorados. Mas para mim... Talvez eu veja além das talhas na madeira. Eu já fui assim. Uma muralha intransponível. Porém, certo dia percebi que um fio de água escorria pelas pedras rústicas. Esse fio me conduziu até o oceano onde meu coração dançava junto com as ondas. Subia e descia, sempre fiel à maré. Nem por isso me tornei um incapaz. Muito pelo contrário. A muralha passou a ser mais forte ainda. Contava, agora, com a água limpa para revigorar sua armadura cansada de tantas batalhas.

Você pode se drogar e chorar durante toda a noite. Ou pode rir da desgraça que assola sua mente. Pode se drogar e ligar para a pessoa amada - na pior hora - e dizer as melhores palavras. Também pode se drogar e evitar os amigos, ligar o som e escutar as velhas músicas. Pode chegar na beira do precipício e rezar (algo que nunca fez durante toda a vida) ou simplesmente acender um cigarro e curtir a paisagem. Pode correr pela rua às 6h da manhã, enquanto os outros dormem. E, no mieo do caminho, para e percebe o quão precioso é aquele momento. Pode amar seu melhor amigo e odiar sua namorada. Você pode, entende? O que te mata é a voz de alguém que nunca lhe abraçou a dizer: "pare, isso é errado, o que vão pensar de você?" O que você vai pensar de si mesmo se parar? Já pensou? Então.

Cante as canções mais bontas. Saberemos para quem é. Escreva suas poesias e molhe a ponta da caneta com lágrimas. Elas sim sabem sobre sua essência. Desenhe até seus pulsos gritarem, eles sim conhecem sua força. Escreva e dance conforme as frases.

Escrever...

“A razão foi abençoada com a fidelidade da língua e da boca. Toda vez em que ela precisa se pronunciar ela procura essas duas parceiras e então se faz entender. Mas e o coração? Preso na caixa torácica, enjaulado como fera perigosa e indomável. Selvagem e sem dizer uma palavra. O mais invejado de todos.

Pois bem. No seu silêncio ele encontrou dois outros 'mudos': os olhos e as mãos. O coração pulsa mais forte quanto o olhar tímido capta aquela figura perfeita que foi roubada do cotidiano. Ele bate mais rápido, enquanto as mãos pedem licença para descrever as curvas irregulares do corpo, modelado com a melhor argila. Ele chora quando os olhos já não mais conseguem enxergar o sorriso do outro lado. Ele sofre quando aquelas mãos dizem 'adeus' lentamente. O coração e seus amigos, mudos e tão expressivos. Ele diz tanto. E para não se esquecer de todas as vivências, faz o último pedido: ‘Mãos, por favor, escrevam enquanto eu bater’. Obrigado. Mas por livre e espontânea vontade.

Aprender

Hoje, vejo claramente que todas as certezas devem ser bombardeadas por questionamentos. Devem ser desafiadas até que consigam provar sua legitimidade. E quando issi for provado, que o mundo possa parir outro espírito inquieto para desafiá-las. Mas desse modo, não teríamos algo para nos apoiarmos. Exatamente.

Seus amigos podem lhe dizer as melhores frases e fazerem os melhores convites que ainda assim, a chateação só vai partir quando VOCÊ decidir expulsá-la. A reabilitação só faz sentido quando é VOCÊ quem procura por ajuda. A garrafa só se torna algo ruim e destrutivo quando VOCÊ percebe que as lágrimas estão mais densas. Enquanto não chegar a tais conclusões, o que lhe disserem irá soar como piedade. E isso, meu amigo(a) é algo que TODOS repudiam. Isso sim é uma certeza. E quem vai questioná-la? VOCÊ?

É o amor. Ele é o culpado. Ele que nos faz humanos demais. O amor é algo exclusivo da nossa espécie. Não por que raciocinamos e somos capazes de pensar e criar novos pensamentos. Mas porque é ele quem nos faz viver todos os dias. Se há ódio é porque antes houve amor. Se você está triste é porque o amor passou pela sua vida e ficou pouco tempo. Se está feliz, é porque ele precisa de um novo lar. Mas como tudo passa, aproveite todas as noites em claro e o abrace bem forte. É o amor. Entendeu, mundo?

Hoje, uma das minhas lágrimas secou por conta própria.